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Adaptação: O Hobbit – Uma Jornada Inesperada

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Repost do amor <3

Em 1936, um pequeno livro infantil fez sucesso moderado no mercado editorial britânico.
O sucesso foi o suficiente para que os editores pedissem ao autor que escrevesse uma continuação.
Só que, como todos sabemos, a Segunda Guerra Mundial estourou lá por aquela época, e a continuação do livrinho infantil demorou mais de dez anos para ser publicada – e quando chegou na editora, era bem diferente do que eles esperavam. Era, na verdade, um livro para adultos com quase mil páginas.

Felizmente para todos, a continuação do livro infantil não só fez um enorme sucesso como também pavimentou o gênero da fantasia em ambientação medieval que teve sua era de ouro nas décadas de 60 a 80.

O autor chegou a vender os direitos do livro para o cinema, mas até o final do século apenas uma animação de pouca qualidade havia sido feita. Então veio Peter Jackson.
Assim como o livro foi essencial para o sucesso da literatura fantasiosa, os filmes de Peter Jackson abriram as portas para que outras produções do gênero viessem para o cinema – mesmo que com menos qualidade e sucesso. As adaptações de Jackson não são perfeitas – veja o que eu achei delas nos seguintes posts: A Sociedade do Anel, As Duas Torres, O Retorno do Rei – mas certamente trouxeram a obra de Tolkien para um público bem mais extenso.

E aí, quase dez anos após o lançamento da trilogia no cinema, aparece O Hobbit. Aquele livrinho infantil, escrito na década de 30, que mesmo tendo sido publicado antes é conhecido como “o prelúdio do Senhor dos Anéis”. Peter Jackson (e seus respectivos produtores) não tinham mais como faturar em cima da trilogia do Senhor dos Anéis no cinema, então porque não adaptar seu prelúdio?

Aparentemente a idéia foi genial, já que O Hobbit foi uma das melhores bilheterias de primeiro final de semana nos EUA DO ANO.
Os fãs, como sempre, ficaram divididos. Muitos não gostaram, muitos idolatraram o diretor, que “fez de tudo em seu poder” para agradar aos fãs.
Já eu acho que Peter Jackson pode ser tudo, menos idiota. Ele fez decisões que estragaram a história do Senhor dos Anéis, mas que deixaram os filmes assistíveis para a massa descerebrada que habita os cinemas. Ele obviamente dividiu a história do livro O Hobbit em três filmes para ganhar três vezes mais dinheiro.

E quanto ao filme?
O filme sofre por ter características “tríades”. Primeiro por ser um filme de fantasia medieval que obviamente não vai terminar e que depende das suas continuações para ter fim. Isso já é um desafio por si só. Os personagens principais são habitantes de uma terra fantástica, e são eles anões, elfos e hobbits (que nem todo o espectador sabe o que é).
Segundo que é um filme que foi feito pra ser prelúdio da trilogia de maior sucesso da década. Os fãs que assistiram os filmes querem ver a mesma pegada no cinema – querem os mesmos temas épicos, os mesmos personagens, a mesma Terra-Média.
E terceiro, mas não menos importante, O Hobbit é uma adaptação de um livro que é muito do bom. Aqueles que leram o livro querem também ver uma adaptação fiel nas telas.

Então é complicado. Em todos os pontos acima, O Hobbit tem suas vitórias e suas derrotas, e vou falar de cada uma delas.

1 – O filme por si só
A primeira coisa que tem que ser dita sobre o filme é o elenco. Apesar de ser um grupo enorme de pessoas que estão perto do protagonista, a narrativa não fica confusa. Como apenas alguns anões têm momentos únicos na trama, dá pra seguir o que acontece sem maiores problemas.
A tríade principal – Gandalf, Bilbo, Thorin – funciona às mil maravilhas: o entrosamento entre os três é excelente, os diálogos impecáveis e a atuação dos atores é de tirar o chapéu.
O roteiro, no entanto, fica um pouco complicado no começo, por ter cortes demais com informações que o espectador não está se importando. Os bons filmes apresentam os personagens principais e as coisas começam a acontecer. O corte para a luta em Moria e especialmente o corte de Radagast pra mim foram desnecessários e deram a impressão de que a história “principal” (Bilbo e os anões) não era interessante o suficiente para que o filme mostrasse o que estava acontecendo com eles.
Não que eu seja contra a presença de Radagast. Só acho que ele deveria ter sido mostrado apenas contracenando com a comitiva, e não com cenas intermináveis que no fim das contas adicionaram pouco à trama.
O arco de história que os roteiristas escolheram mostrar é bem claro: Bilbo é um mané que precisa provar seu valor para os anões. As cenas em que ele faz isso são bem idiotas, mas de qualquer forma é um arco válido que tem começo, meio e fim. Apesar das cenas de conflito e perigo pelos quais a comitiva passam serem bem bobinhos – o espectador em momento algum sente que talvez algum deles realmente morra em alguma luta – fica claro que a jornada de Bilbo para ser aceito por Thorin é o que importa.

2 – O filme como prelúdio de O Senhor dos Anéis
Nesse quesito, acho que o principal problema – de novo – é o roteiro. Por um lado, a história segue a mesma estrutura (comitiva se reúne, passa a ser perseguida, momento de calma em Rivendell, goblins, caminhando pela paisagem etc), e isso evoca cenas de SdA, mas por outro lado, é bem mais do mesmo, né. E ainda tem o fato de que, enquanto Frodo e seus amigos querem salvar o mundo, Bilbo e seus companheiros querem recuperar um monte de dinheiro. É diferente, e a pegada da aventura é diferente. Eu pessoalmente gosto mais da pegada do Hobbit justamente por ser bem mais leve. Mas a trama épica com destinos maiores que a vida não está presente no filme, e os órfãos bobocas de SdA que achavam que o Hobbit deveria ter a mesma pegada ficaram desapontados.
A Nova Zelândia continua linda, as musiquinhas continuam boas e as cenas de pessoas caminhando por entre as montanhas continuam fodas. Mas é bem difícil comparar o clima das duas histórias, pelo motivo de que eu vou falar agora.

3 – A Adaptação.
Lembra lá no começo do post, que eu falei que O Hobbit é um livro infantil? Tipo, pois é. Infantil igual a Nárnia. Com personagens bobos e engraçados. Com trama leve, sem violência e sem conflitos tensos. Com momentos de fantasia para agradar ao paladar infantil, como gigantes de pedra, trolls com sotaque cockney e um monstro das profundezas das montanhas que pode ser derrotado… usando uma competição de charadas.
Aí vem um diretor com vontade de faturar e resolve transformar um livrinho de 300 páginas em uma trilogia cheia de efeitos, batalhas intermináveis e cenas épicas.
Vocês concordam que OU ele é fiel ao livro OU ele faz o filme que ele queria?
Então.
Digamos que o Peter Jackson meio que ficou em cima do muro.
Em alguns momentos, ele consegue ser épico. Em outros momentos ele consegue ser fiel ao livro.
O resultado foi um pouco dos dois, e um filme bem do irregular.

Claro que eu gostei do filme. Claro que vou assistir de novo. E claro que vou recomendá-lo pra caramba e defendê-lo de qualquer babaca que queira detoná-lo sem embasamento técnico. Image may be NSFW.
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😀

Se você gosta de filmes de fantasia, e se gostou de SdA, existe uma probabilidade muito grande de você gostar desse filme.
Mas se quiserem saber mesmo o que achei, ponto por ponto…

Segue:

Contém MUITOS spoilers!
Quem não viu o filme ainda nem comece a ler!!

Eu não sei se vocês repararam em como eu sou louca nerd fanática pelo universo do Senhor dos Anéis, mas se não repararam enfim. Tou falando agora.
A primeira vez que assisti esse filme eu não pude evitar de reparar nas semelhanças e diferenças entre o filme e o livro, como eu sempre acabo fazendo quando assisto uma adaptação.
E mesmo assim não pude deixar de reparar na irregularidade complicada do roteiro.

Da segunda vez que eu assisti, o filme ficou mais leve, até porque eu não estava comparando cada cena com o livro.
Mas em ambas as vezes me deu a impressão de que é um filme assistível por leigos (ou seja, pessoas que não leram os livros) mas que perde a metade da graça pra essa audiência.
Ou seja, o filme é muito mais direcionado a fãs do que ao assistidor médio que provavelmente tentou ler O Senhor dos Anéis depois que o filme saiu e só ouviu falar do Hobbit por causa de SdA ou quando muito leu O Hobbit há muitos anos.
O filme  não é feito pros leigos. O filme é feito pros fãs.
Dito isso, claro que muitos fãs já tão reclamando pela aí que Radagast parece uma princesa Disney (porque ele fica falando com os animaizinhos) e que tais. Mas O Hobbit sofre de problemas muito maiores do que a caracterização de um mago menor.

O Hobbit nunca vai ser considerado um filme por si só; ele não foi feito pra isso. Ele é uma adaptação de um livro famoso. Ele é prelúdio de um livro mais famoso ainda, que foi transformado nos filmes que trouxeram, junto com Harry Potter, a fantasia de volta ao cenário hollywoodiano.
É muita expectativa pra um filme que na verdade já tinha o enorme desafio de transformar um livreco infantil de 200 páginas em três blockbusters épicos cheios de aventura.

O principal problema do Hobbit, portanto, é o roteiro. Ao tentar balancear o tom do livro com o tom dos filmes anteriores que na verdade se passam depois (numa chateação digna de Star Wars), o roteiro enche o começo do filme com cenas desnecessárias, com personagens que não são interessantes e por motivos sem sentido.

Quer ver?
No começo do filme temos um prelúdio digno de A Sociedade do Anel mostrando-não-mostrando o ataque do dragão ao reino de Erebor. Legal muito da hora louco demais.
Até aí, ok, é um prelúdio e não esperamos muito em termos de personagens.
Daí temos uma cena que nos leva direto ao início da Sociedade do Anel e legal, um filme é continuação do outro e tinham que dar uma ponta para o Frodo porque se não os fãs do filme do SdA não iam querer ver O Hobbit. Enfim.
Depois os anões chegam e fica bem legal.
Mas aí, mal sabemos quem é Bilbo e o que os anões querem e já voamos para as portas de Moria, numa batalha épica que perde o sabor porque o espectador não se importa com nenhum dos dois lados e nem consegue distinguir quem é quem na confusão.
Depois disso, temos mais uma ceninha na chuva e cooooorta de novo para Radagast, que não sabemos quem é, não nos importamos com o que ele tá fazendo e não entendemos bulhufas de qualé a das aranhas.

Claro que depois as coisas começam a dar certo novamente, com o filme quase que todo focado na sociedade-comitiva de anões e nas suas aventuras. Que mesmo sendo bobocas e infantis conseguiram dar um tom minimamente urgente para que nos preocupemos com nossos personagens.
Mas aí tem o Conselho Branco, que é equivocado em tantos pontos que nem sei por onde começar.
Ah, sim. Me explica o Saruman? Ele não é o velho malvado que tá agindo com Mordor. Teoricamente, durante os eventos do Hobbit, Saruman é o bonzinho, o legal, o super-sábio-do-universo.
A única explicação para a reação do Gandalf quando Saruman aparece é que o roteiro ignorou a participação de Saruman no livro e resolveu que ele vai ser o malvado desde o início, assim como mudou a motivação de Saruman em SdA-Filme.
Mas mesmo que esse fosse o caso. O filme deixa claro que a Galadriel é fodona. Daí ela fala “nossa, isso é a faca do bruxão”. E o Elrond fala “nossa, é mesmo”. E o Saruman fala “que prova temos de que essa é a faca do cara? Nenhuma! Your argument is invalid!”
Tipo. Nem no universo do filme essa colou. Não faz sentido interno o Saruman ignorar o que a Galadriel e o Elrond falam e nenhum dos dois fazer nada a respeito.
E outra. Por que o Saruman precisa deixar ou não deixar os anões fazerem o que quer que seja? Ele é o “protetor” da Terra Média, mas o que isso significa? O filme não fala.

E qualé a dos orcs que podem sair no sol sussa? Uma coisa é os orcs de Moria lutarem com os anões no sol. Outra coisa é o Gandalf falando que só vão conseguir fugir das Misty Mountains se eles chegarem até a luz do sol. Mas antes, logo quando vão chegar em Rivendell, os goblins tão atrás deles em wargs em plena luz do dia! Se decidam ae, meo.
A cena das charadas podia ter sido tão melhor. A fuga palhacenta das montanhas parece Piratas do Caribe piorado e ainda por cima cansa.
Felizmente, para compensar, temos o elenco.

Então vamos falar do elenco!
Hugh Weaving conseguiu balancear com perfeição o seu personagem, que agora não parece mais um Sr. Smith que fala élfico bem devagar. Ele está mais jovial, mais alegre e mais de acordo com o Elrond do livro Hobbit.
Ian McKellen está perfeito. Ele se diverte loucamente como Gandalf, e o papel não exige tantos momentos “sou o sábio do universo dando conselhos com a musiquinha tema ao fundo” que nem em SdA – e convenhamos o Gandalf do Hobbit é bem mais divertido.

E preciso falar da obra prima do momento que é o duo Bilbo/Thorin, dois personagens difíceis e que foram magistralmente captados pelos atores. Cada cena dos dois é de bater palminhas.
Os outros anões, infelizmente, têm pouco lugar na trama, até porque no livro tinham quase tanta personalidade quanto as espadas de Thorin e Gandalf.

Outro ponto que merece ser mencionado. Tolkien era racista e misógino. Então nos livros dele os elfos brancos e loiros são a raça superior, e quanto mais moreno e mais escuro de pele mais pior você é, desde os Haradrim do sul até os orcs de Mordor. Já as mulheres devem ser belas e inatingíveis, com a exceção que confirma a regra de Éowyn. Não custa nada ler o livro – e ver o filme – já sabendo disso sobre o autor e já reparando nesse tipo de coisa. Isso não faz com que os livros sejam ruins. É só um fato. Hollywood tentou dar uma melhorada no quesito misoginia – colocando Galadriel com um papel que não existiam e O Hobbit e colocando a Arwen com um papel que não existia em SdA. Mas não fizeram absolutamente nada pelo racismo, #por-que-será.

Mas agora chega. Já falei mais do que devia. Eu reclamo muito mas é porque sou fã.
Vejam o filme, é muito legal!

Filme: O Hobbit – Uma Jornada Inexperada (2012)
Nome original: The Hobbit – An Unexpected Journey
De Peter Jackson
Com Ian McKellen, Martin Freeman, Richard Armitage, Cate Blanchett, Hugo Weaving, Christopher Lee, Ken Stott, Ian Holm, Elijahn Wood


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